Apresentaçao. Cidades como idéias.

AFONSO CARLOS MARQUES DOS SANTOS

Universidad Federal de Río de Janeiro

O arquiteto Aldo Rossi, ao tratar da memória coletiva no livro clássico A arquitetura da cidade, cuja primeira edição italiana é de 1966, considerou que “as grandes idéias percorrem a história da cidade e a conformam”.1 José Luis Romero, ao publicar, dez anos depois, Latinoamérica: las ciudades y las ideas,2 buscou não apenas compreendê-las no universo circunscrito das ideologias, mas também identificar seu papel na história da América Latina. O processo histórico tinha, para ele, um fio condutor de difícil apreensão, dentro de um quadro aparentemente confuso, tarefa que, no entanto, precisava ser enfrentada. E as cidades, como lugar das mudanças, poderiam oferecer as chaves interpretativas para um fenômeno que esteve à mercê tanto dos impactos externos quanto das idéias nelas produzidas, idéias que corresponderam a “importações” sucessivas, mas que também eram o resultado das peculiaridades de cada estrutura urbana.

Romero estava disposto a ultrapassar a história política tradicional, que reduzia a história das cidades aos aspectos factuais do exercício do poder e na qual o fenômeno urbano permanecia incompreensível em sua complexidade. Sua proposta era a de “estabelecer e organizar o processo da história social e cultural das cidades latino-americanas”, exigência que pode ser compreendida nas indicações de Luis Alberto Romero, no Prefácio a esta edição, sobre o lugar que o autor reservara para a história da cultura na sua trajetória de historiador social. Além disso, a síntese histórica sobre o fenômeno urbano no continente deveria dar conta da sua inserção contraditória na cultura ocidental: da expansão européia do final do século XV à massificação das cidades no capitalismo do século XX. A realização deste projeto, entretanto, só se tomou possível na pena de um historiador da cultura ocidental com a erudição e o rigor de José Luis Romero.

A publicação da tradução brasileira desta obra, quase três décadas após o seu acidentado lançamento pela editora Siglo Veintiuno Argentina, faz parte de um conjunto de esforços para a divulgação mútua de autores argentinos e brasileiros nos dois países. É a tentativa, retomada por várias gerações, e interrompida durante as ditaduras, de estabelecer o diálogo, eliminar preconceitos, descobrir identidades e inaugurar novas formas de colaboração intelectual. Lá, como aqui, os golpes militares foram desastrosos em todos os níveis da existência humana. No nosso caso particular, o da vida universitária e da produção do conhecimento histórico-social, as destruições e as perdas deixaram marcas profundas, interrompendo projetos e eliminando profissionais e práticas institucionais. É hora de reverter esse processo de desconhecimento mútuo e de romper com a tradição perversa dos nossos bovarismos nacionais.

Com todas as ressalvas necessárias, América Latina: as cidades e as idéias é uma espécie de lugar da memória do melhor pensamento produzido nesta parte do Novo Mundo, tanto pelas qualidades intelectuais e características pessoais do autor, quanto pelas referências históricas e culturais que elencou. José Luis Romero, num livro sem notas de pé de página e sem se deixar seduzir por questões datadas, nos legou uma obra na qual as idéias, confrontadas com as complexas realidades sociais do continente, são trabalhadas por um historiador que não distinguia entre seu compromisso com o rigor e a possibilidade de intervir no presente histórico vivido, como atestam as utilíssimas informações biográficas que seu filho, o historiador Luis Alberto Romero,3 nos oferece no Prefácio.

Uma avaliação do papel historiográfico do grande historiador pode ser encontrada no estudo de Tulio Halperin Donghi, “José Luis Romero y su lugar en la historiografia argentina”, publicado originalmente na revista Desarrollo Económico e inserido posteriormente num conjunto de ensaios de Donghi.4 Quem desejar conhecer também o conjunto da obra de J. L. Romero e a bibliografia sobre ele até 1998 pode consultar o artigo de José Omar Acha, da Universidade de Buenos Aires, intitulado “José Luis Romero (1909-1977): bibliografía comentada para una historia intelectual”.5 O mexicano Alexander Betancourt Mendieta publicou recentemente o estudo historiográfico Historia, ciudad e ideas. La obra de José Luis Romero.6 Em dezembro de 2001, na conceituada revista de cultura Punto de Vista, três importantes autores, motivados pela nova edição argentina de América Latina: as cidades e as idéias, também comentaram, de forma instigante e diferenciada, a importância da obra.7

Recomendo ainda, para se conhecer o projeto historiográfico de José Luis Romero, a leitura de seu livro recentemente reeditado na Argentina, Crisis y orden en el mundo feudoburgués, que conta com uma “Advertencia”, por Luis Alberto Romero; uma “Presentación”, por Jacques Le Goff; e “Un estudio preliminar”, por Carlos Astarita.8 Jacques Le Goff, o grande historiador medievalista francês a quem a historiografia produzida no século XX deve tantos avanços temáticos e metodológicos, chama a atenção para o fato de que “arte e literatura são expressões e testemunhos privilegiados das sociedades históricas” e observa que José Luis Romero foi um dos historiadores mais cultos de seu tempo, tendo dado “aos testemunhos artísticos e literários um lugar particularmente impactante, em contraste com o relativo silêncio dos medievalistas açambarcados pelas fontes jurídicas (que não desdenha)”.9 Destaca, também, que um dos melhores textos de outro livro de Romero, Ensayos sobre la burguesia medieval, trata de “Dante Alighieri y el orden del mundo”. Para Le Goff, nesse ensaio de 1961, o uso do termo “espírito” anuncia o de mentalidade e define o “espírito burguês”.10 Le Goff observa que é a sociedade concreta o que atrai Romero, que, por sua vez, considera o ofício de historiador como algo que abrange uma face realista e uma face imaginária da história. Romero seria o pioneiro de uma história das representações e do imaginário (e isso sem empregar diretamente esses termos, que emergiram na historiografia pouco depois do seu desaparecimento).11 Outra observação de Le Goff é que

a concepção fundamental da evolução histórica para José Luis Romero é a de uma perpétua mudança – palavra onipresente na sua obra –, que ocorre em etapas, do surgimento inicial de novidades, passando pelo desenvolvimento de crises e finalmente ocorrendo a revolução. Surge daí uma visão otimista da história, mais acabada e mais rica que a idéia de progresso, em crise na época em que escrevia, e que não o atraiu.12

Le Goff conclui sua apresentação ao livro de 1980, reeditado recentemente na Argentina, aludindo ao parentesco das idéias de Romero com as de seus contemporâneos dos Annales, observando que “a imagem, a nova imagem que lhe apareceu no coração do fenômeno burguês e, por conseguinte, da reflexão e da paixão do historiador, é a do homem. José Luis Romero foi um grande pioneiro da antropologia histórica”.13

O grande historiador argentino Tulio Halperin Donghi, por sua vez, considera que é em América Latina: as cidades e as idéias, neste livro “admirável e tardio”, que Romero assume explorar o sentido da trajetória histórica latino-americana como tarefa legitimamente sua.14 Para Donghi, este é um livro maior não apenas no conjunto da obra de Romero, mas na própria historiografia latino-americana, sendo marcado por uma visão própria do passado e do presente desta parte do continente.15 Ao comentar o índice de autores citados, chama atenção para a sua especificidade, uma vez que relaciona primordialmente fontes, sobretudo testemunhais, como aquelas que aprendeu a desentranhar magistralmente em seus estudos medievais. Duas outras características são ainda observadas: a presença da literatura disputando lugar com testemunhos mais diretos e o fato de ter prescindido de inteirar-se do “estado da questão” na historiografia. Romero preferiu “entrar na história urbana da América Latina quase como um explorador em terra incógnita”.16

José Luis Romero trouxe sua experiência com os estudos do medievo europeu17 para a história urbana latino-americana, contribuindo também, na expressão de Donghi, com “o seguro domínio de um estilo de reconstrução histórica”. E, neste deslocamento de experiência, revela uma “consciência muito viva da diferença profunda entre o fenômeno urbano na Europa medieval e pós-medieval e na América Latina”. Para Donghi, é essa consciência “que permite a Romero dar conta das peculiaridades e da originalidade da trajetória histórica das cidades latino-americanas”.18 E no estudo da etapa colonial que Romero indica as diferenças de origem e finalidade das cidades, visto que não surgem de nenhum processo social espontâneo, mas da dominação política e da exploração econômica das populações conquistadas, fato que afeta todos os aspectos da vida urbana. Ao colocar o dado colonial no centro da sua análise das cidades fidalgas e crioulas, Romero, como destaca Donghi, estaria preparando uma imagem da mudança trazida pela independência, recusando as interpretações que teimam em diminuir o alcance da ruptura. Na história urbana latino-americana, a independência seria, para José Luis Romero, a fronteira entre a cidade crioula e a patrícia.19

O crítico literário Noé Jitrik,20 que conheceu José Luis Romero, tenta ordenar as idéias que uma leitura atual da obra poderia suscitar, e encontra três razões para reafirmar a grandeza do livro: a primeira, o fato de tratar-se de um livro de recorte latino-americano, um tipo de abordagem que não era usual na Argentina de então, quando Romero o idealiza e escreve – a América Latina era vista como distância, e as diferenças eram postas acima das semelhanças. Não era essa a posição de Romero, pois buscou as proximidades, compreendendo a questão pela via da história, uma história de vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, uma história de força, porém uma força sempre detida, sempre frustrada. A segunda razão que Jitrik registra é a qualidade da “escritura”, um relato histórico, cuja escrita, no entanto, é dotada da respiração necessária para que as idéias e o aparato funcionem, propondo ou postulando entidades de conhecimento de outro nível. A terceira razão residiria no próprio enfoque de caráter histórico, dirigido à entidade ou à estrutura da cidade. Este núcleo único, ao organizar a pesquisa, daria conta de um processo mais amplo: o entendimento do processo de criação, instalação e desenvolvimento das cidades na América Latina viabiliza a compreensão desta parte do continente, tanto em sua grandeza propositiva como em sua miséria conflitiva. Este procedimento, observa Jitrik, comportaria uma teoria da história e da historiografia que sintetiza avanços da chamada história social e permite medir seus resultados.21

Noé Jitrik propõe que nos detenhamos neste aspecto do livro de Romero: a escolha do tema da cidade para fazer história. Por detrás do tema, estariam os ecos de várias tradições, especialmente a de Sarmiento, com todo o seu potencial conflitivo para o caso argentino.22 As cidades na obra de Romero surgiriam, na percepção de Jitrik, em diapasão com o campo e se explicariam por uma dialética de fundo marxista que não precisa explicitar-se como tal nem sustentar as felicidades do método de Marx. Campo e cidade são apresentados como âmbitos conceituais encarnados em imagens procedentes da narrativa literária. Com isso Romero se afasta de ortodoxias discursivas e constrói um discurso próprio, apto, como considera Jitrik, para entender a dramaturgia da conformação latino-americana e, sobretudo, para entender que o discurso historiográfico é também um fato narrativo e de escrita.23 As cidades, como sugere José Luis Romero, surgem também por metáfora, como conseqüência de uma necessidade de designação que toma a forma de uma rede sobre a qual se assenta o pensamento de um império colonial.

Romero vai da descrição à interpretação, e Jitrik faz notar que, se a descrição não é minimalista, mas essencialmente cenográfica, a interpretação das monstruosas concentrações da riqueza e da propriedade, num rastro de apropriações desmedidas e num quadro de ferozes desigualdades e injustiças, se dá por pinceladas, por vezes irônicas. Numa última avaliação, Noé Jitrik afirma:

A reaparição do livro de Romero, tantos anos depois, é um acontecimento: pois conserva os alcances de sua proposta e, eventualmente, aqueles que não puderam ser percebidos quando do seu lançamento, mas conserva também a sedução do seu gesto intelectual. Isso, precisamente nestes momentos em que esta categoria está tão dissolvida, propõe uma reconcentração, um voltar a pensar mais além de urgências discursivas que bem podem ser puro ruído, o que, classicamente, não leva a nenhum lugar.24

O historiador Carlos Altamirano 25 lembra que José Luis Romero introduziu a história social no âmbito dos estudos universitários na Argentina – a história social tal como se configurou ao longo de trinta anos e tal como foi conhecida no mundo. Para aí apontava a bibliografia trabalhada por Romero em sua cátedra, de Marc Bloch a Pierre Vilar, entre muitos outros, assim como o uso da idéia de uma “história total”, como a utilizada pelos Annales e proposta por Lucien Febvre. Altamirano afirma, no entanto, que, mesmo com os dados fornecidos pela trajetória de Romero e com suas explicitações no livro em questão, não se sente seguro para incluir este livro de difícil classificação na vertente da história social. Muitos de seus temas pertenceriam, sem dúvida, à história social, porém outros se inscreveriam nos domínios da história política, da história das idéias e da história urbana. Contudo, é justamente a mediação entre esses temas que constitui uma das qualidades do autor na composição de América Latina: as cidades e as idéias. Diante destas dificuldades e sendo necessário escolher, Carlos Altamirano prefere situar a obra em outro quadro, o da história cultural, considerando que Romero nos legou um ensaio de história cultural da América Latina através de suas cidades, o que é coerente com suas iniciativas anteriores, como a publicação que dirigiu, entre 1953 e 1956, Imago Mundi, cujo subtítulo era Revista de História da Cultura, antes de assumir a cátedra de História Social na Universidade de Buenos Aires, e a direção de um centro de História da Cultura na Universidade de Montevidéu. Contudo, indícios na mesma direção podem ser encontrados em vários títulos de sua obra, nos quais se fazem presentes expressões como “contatos culturais”, “imagens”, “idéias” e “ideologias”.26

Nos textos que Romero dedicou à natureza da sua disciplina, como os que foram reunidos no livro La vida histórica,27 declara sua dívida com pensadores que, entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do XX, sobretudo no âmbito da cultura alemã, se propuseram dar fundamento às ciências do mundo histórico – as chamadas ciências do espírito, por oposição às ciências da natureza. Para Romero, as bases epistemológicas do saber histórico haviam sido estabelecidas por autores como Windelband, Rickert, Croce e, sobretudo, Dilthey. Deles é que extraíra as premissas de seu enfoque historiográfico, que faz das culturas e dos grupos sociais o objeto próprio do conhecimento histórico.28 Altamirano acredita que foi sobre esta base culturalista que se operou a recepção da história social em Romero.

Mesmo levando em consideração que a história da América Latina é, por sua vez, urbana e rural, a cidade é o foco dinâmico dessa história, como observa Romero, que reconheceu o fato de a sua obra ter herdado a dicotomia do Facundo de Sarmiento, ainda que não tenha herdado o seu sistema axiológico.29 A cidade surge, no território que se constituiria na América Latina, como fruto de uma visão e instrumento de uma missão. Romero chamou de “cidade ideológica” ao núcleo urbano original do propósito de domínio sobre um território que o conquistador considerava culturalmente vazio. A história posterior será marcada pelo processo de diferenciação que atua sobre esse esquema inicial, próprio do ciclo de fundações, processo que se desdobra numa série de constelações urbanas: as cidades fidalgas, as cidades crioulas, as cidades patrícias, as cidades burguesas e as cidades massificadas.

Assim como a cidade, o campo também aparece como lugar de uma ideologia, e Romero, num caso e noutro, colocará a ênfase nos estilos de vida e na elaboração ideológica da experiência. A este raciocínio, acrescenta Carlos Altamirano duas observações: a primeira, o fato de o livro, reconhecido como um clássico pelas historiografias argentina e latino-americana, não ter deixado descendentes, com a exceção, talvez, de La ciudad letrada, de Ángel Rama;30 a outra refere-se ao estilo intelectual de Romero, marcado pela sobriedade, contenção e certa reserva irônica para evitar que a paixão cívica, que reivindicava para o seu trabalho historiográfico, se convertesse numa desculpa patética.31

Outra avaliação significativa, publicada por Punto de Vista, é a que fez Adrián Gorelik 32 no artigo “Un optimismo urbano”, em que assinala que América Latina: as cidades e as idéias é

um livro que tem a rara virtude de ser cada vez mais atual, ainda que de uma maneira sempre peculiar: tanto […] quando foi publicado pela primeira vez e não se falava de nada chamado “cultura urbana latino-americana”, quanto agora, quando sob esse nome já se desenvolveu um pequeno boom dentro dos “estudos culturais”, o livro de Romero tem a peculiaridade de se manter, por diferentes razões, desajustado. De início porque surgiu numa conjuntura favorável à crescente importância da cidade e de sua história, desde os anos 1950, na América Latina. Porém, frente a uma historiografia basicamente monográfica, América Latina: as cidades e as idéias continua sendo o único empreendimento que procura abarcar a história cultural urbana do continente da colonização ao século XX. Uma tentativa só possível pelo enorme talento narrativo do autor, que organiza uma multidão de materiais, em sua maioria literários, em tomo de uma série de hipóteses, tão complexas quanto firmemente articuladas.33

Mas o que significa para Romero uma história cultural urbana, a não ser uma história ideológica das sociedades urbanas que é também uma história ideológica da América Latina? Gorelik atenta para o fato de que “ideologia deve entender-se como forma social: corpo de crenças, idéias, valores e estilos de vida que encarnaram em diferentes grupos sociais e em diferentes localizações sociais”.34 Gorelik observa que a cidade, como expressão autêntica do continente latino-americano, é, para Romero, desde o século XVI, uma

projeção do mundo europeu, mercantil e burguês, e as cidades são o âmbito em que essa projeção se realiza, os baluartes da fronteira daquele mundo europeu, os postos avançados que buscam organizar, à sua imagem e semelhança, o estranho, enorme e desconhecido território em que se incrustam. Neste sentido, a cidade é também uma ideologia e sua própria criação, por vezes tão original e tão pendente dos modelos que toma: uma forma urbana e mental de longa duração.35

Um dos temas centrais do livro, como acentua Gorelik, são os mecanismos pelos quais a cidade e a realidade que a circunda vão se modificando mutuamente, hostis ao ponto de chegar a conformar duas ideologias contrapostas. Toda a história social e política latino-americana, para Romero, seria definida por esse conflito perceptível nas cidades e que é basicamente cultural. Da homogeneidade à crescente diferenciação, tudo é visto por meio do entrecruzamento de dois tipos de processos de desenvolvimento: os heterônomos e os autônomos. Nos primeiros se dá o impacto das transformações econômicas e das correntes de idéias européias; e, nos segundos, surge a consciência sobre a região, a sociedade que a habita e suas formas ideológicas. Apesar de Romero ser mais rico no trabalho histórico do que no conceituai, seu objetivo é identificar, como observa Gorelik, “na história ideológica das sociedades urbanas latino-americanas, a convivência tensa entre representações e realidades: entre o que fica do desígnio, incompleto e desmentido, e a própria realidade que, em seu fracasso, chega a constituir”.36 Gorelik cita o exemplo da cidade fidalga como produto do desenvolvimento heterônomo: cidadela social e cultural que busca definir-se como uma Nova Europa. Contudo, de dentro desse desenvolvimento econômico (heterônomo), no seu interior, começa a surgir uma nova sociedade burguesa. E é a sociedade sui generis formada no campo que permite uma nova mentalidade rural, produto por antonomásia do desenvolvimento autônomo, o que vai robustecer a antiga sociedade fidalga em seu conflito interior com a burguesia. Tulio Halperin Donghi, em 1995,37 já havia observado que no livro de Romero a burguesia crioula aparece fugazmente para desaparecer, não porque tenha sido derrotada, mas porque se confunde imediatamente com as velhas e novas elites de base rural que darão o tom a essa nova cidade. São misturas análogas às que ocorrem nos anos 1930 na “cidade massificada”, o que remete ao tema da industrialização e à dificuldade que terão os setores tradicionais para conviver ao lado de um terceiro setor, populista, originário do aparecimento das massas e que se coloca em posição de as conduzir. Gorelik registra ainda para o fato de que essas massas levam no seu interior o conflito principal entre desenvolvimento autônomo e desenvolvimento heterônomo. Produto de uma nova “ofensiva do campo sobre a cidade”, reproduzem no plano urbano aspectos de sua cultura rural; porém, com isso, não fazem senão contribuir para o maior processo de heteronomização européia e norte-americana da cultura latino-americana, a industrialização.38

A análise recente do arquiteto e historiador Adrián Gorelik sobre o livro de José Luis Romero é, de fato, notável, pois trata-se de um pesquisador e intérprete do fenômeno urbano por excelência e que pensa a questão com grande densidade filosófica. Identifica em Romero o tema do conflito – cidade/campo, elites/massas – como um dos que lhe são caros, mas não tanto para alimentar a idéia de uma sociedade cindida – ainda que a história latino-americana seja bastante marcada por momentos de forte cisão –, e sim para mostrar a cidade como o resultado de contínuas combinações e compromissos das muitas facetas do existente com a difícil emergência do novo, cidade sempre diferente do projeto urbano inicial. Gorelik também estabelece nesse artigo uma correlação entre Romero e Martínez Estrada,39 pois em Romero a cidade se fundamentaria no medo diante do outro e no fracasso de sua tentativa de impedir a fusão decorrente da “ofensiva do campo”, idéia que pode ser equiparada à “vingança do outro” de Martínez Estrada.

Romero busca identificar as funções cambiantes do velho no novo, denunciando sua imutabilidade sob as marcas do progresso. Porém sem uma visão imobilista da história, ou que faça do conflito seu ponto de chegada. Gorelik indica que é ao conflito em si mesmo que a sensibilidade de Romero está atenta. O conflito que torna dinâmica uma sociedade deve ser buscado nas fronteiras culturais que sempre se produzem quando diferentes universos entram em colisão. Por isso, Gorelik considera que o período mais rico do livro é o dedicado ao século XIX, quando Romero identifica projetos em luta mais fortes e claros. Nas fronteiras culturais, aposta na possibilidade de que os conflitos encontrem uma via de conciliação, a ambicionada criação de uma “cultura comum”. E a cidade é o lugar onde isso pode acontecer.40

É esse “otimismo urbano” detectado por Adrián Gorelik que permite a Romero vincular sua perspectiva da cidade com os estudos urbanos de seu tempo. A história urbana latino-americana nasce nos anos 1950, paradoxalmente, como parte das políticas de desenvolvimento e modernização – nas quais a cidade ocupa um lugar central, recebendo delas algumas marcas notáveis. Gorelik lembra muito bem o nome de Jorge Enrique Hardoy, emblemático nessa peculiar combinação de curiosidade histórica, pulsão modernizadora e produção de instituições continentais. Boa parte das perguntas que organizavam a agenda historiográfica de então acompanha o próprio processo de modernização das cidades. José Luis Romero não esteve imune a esse processo e aos debates do período, ainda que o fato de privilegiar a sociedade civil, e não Estado, assinalado por Omar Acha, o tenha impedido de estar plenamente sintonizado com o clima planificador.41Mas

Gorelik não deixa de sublinhar o fato de que todos os temas e problemas relativos ao planejamento estão presentes, como um tênue alinhavo, em América Latina: as cidades e as idéias. Por exemplo, as discussões sobre o caráter diferencial da cidade latino-americana em relação à européia, que supunham analisar a célebre caracterização de Henri Pirenne, invertendo o sentido da relação que traçava entre cidade e campo (cidade centrípeta européia versus cidade centrífuga americana). Num rápido balanço de tendências, Gorelik considera que é possível entender a fórmula autonomia/heteronomia como uma posição singular de Romero diante das idéias de dependência e influência, centrais naquele debate.

Gorelik identifica, além dos temas encontrados por Romero na literatura argentina, as influências de autores que vão de Simmel e da Escola de Chicago à teoria da modernização, o que lhe permitiu encontrar algo de novo em Sarmiento, extraindo daí a firmeza de seu “otimismo urbano”, magnificamente retratado na reinterpretação que deu da antinomia entre civilização e barbárie como uma antinomia entre liberdade e necessidade: a necessidade como combinação de natureza e cultura – elementos dados; a liberdade como a ação humana criadora para se sobrepor a essas determinações. Para Gorelik, Romero estaria aí se remetendo a uma definição clássica, como a que registrou Hannah Arendt em sua leitura da pólis grega, na qual a liberdade é o público, a política e a cidade, ao passo que a necessidade é o privado, a economia e o mundo doméstico. O campo seria, assim, para o Romero que relê Sarmiento, a barbárie da necessidade e da liberdade, que, como possibilidade, só pode se aninhar na cidade. Tudo isso levaria a um recorte muito nítido nas maneiras alternativas de pensar a cultura urbana nos últimos anos.

Outro autor a ser considerado é Angel Rama e sua avaliação da “cidade letrada”, melhor sintonizada com o ânimo atual dos estudos culturais urbanos, em seu modo paradoxal de recorrer à cidade como bastião e ruína de uma modernidade opressora. Romero escreveria, em resposta, assumindo os valores da “cidade letrada”. Essa visão se basearia num programa reformista que aspira a incluir as massas nos benefícios da cultura letrada, não de um modo passivo, mas para que possam modificá-la e enriquecê-la.

Gorelik afirma que Carlos Altamirano já havia mostrado o valor ambíguo que assume a noção de “sociedade aluvial” em Romero, os profundos obstáculos que ele percebia nesse composto social heterogêneo para que se alcançasse a necessária coesão: a produção de uma cultura comum é muito complexa e, pelo menos no caso da sociedade argentina, Altamirano mostraria que Romero não tinha muita confiança de que se pudesse levar o desafio a cabo e com êxito.42 Adrián Gorelik, no entanto, conclui afirmando que, apesar da desconfiança de José Luis Romero na sociedade, “não acredita que seja necessariamente contraditório assinalar que manteve sempre, e este livro [América Latina: as cidades e as idéias] é o melhor exemplo, confiança na cidade, não como cenário para essa cultura comum, mas como motor imprescindível para a sua produção”.43

Promover a tradução e a publicação desta obra no Brasil é um desejo antigo, que a Editora UFRJ vem viabilizar, numa conjuntura de aproximação entre pesquisadores dos dois países irmãos que é, no entanto, atravessada por todas as dificuldades históricas de integração da Argentina e do Brasil em contexto latino-americano de maior alcance. José Luis Romero e seu livro se inscrevem nesse esforço de compreensão do continente. Sua singularidade e atualidade permanecem vivas, como mostram as avaliações mais recentes de sua obra. Poderíamos mencionar algumas particularidades na comparação entre a América espanhola e a portuguesa, pois aqui se verifica um fenômeno geopolítico que alterou profundamente a tipologia da autonomia política e o desenvolvimento da urbanização dos grandes centros. Trabalhamos esta questão em estudos como “Da colonização à Europa possível: as dimensões da contradição”, no texto “A invenção do Brasil: um problema nacional” e no livro No rascunho da nação,44 entre outros. A questão civilizatória e da modernização urbana no caso brasileiro tem surgido em ensaios como “A Academia Imperial de Belas-Artes e o projeto civilizatório do Império”,45 “O Paço da cidade: biografia de um monumento” e “Entre a forma e o ideal: um emblema da civilização”, publicado como introdução à reedição do livro de Pedro Calmon sobre o Palácio da Praia Vermelha.46 Devo mencionar também duas importantes publicações que expressam as tentativas bem-sucedidas de Monica Hirst, presidente da Fundación Centro de Estudos Brasileiros (Funceb), localizada em Buenos Aires, e que são o resultado dos produtivos seminários “Brasil-Argentina: a visão do outro”, realizados com o apoio da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), sob os auspícios do Itamarati. São dois livros que documentam a aproximação entre brasileiros e argentinos e que exemplificam os esforços realizados e nos quais pudemos publicar o ensaio “A cidade do Rio de Janeiro: de laboratório da civilização à cidade símbolo da nacionalidade”, em diálogo com o texto de Eduardo Hourcarde, da Universidade Nacional de Rosario, intitulado “La historia de la ciudad de Buenos Aires y la constitución de representaciones de la identidad nacional argentina”,47 e o ensaio “A construção do Estado imperial no Brasil: soberania e legitimidade”, em diálogo com o texto de José Carlos Chiaramonte, da Universidade de Buenos Aires, intitulado “La cuestión de la soberania en la génesis y constitución del Estado argentino”.48

Há muita coisa para ser feita no que diz respeito às aproximações culturais entre os dois países e que passa, sem dúvida, pelas trocas editoriais. Importantes autores brasileiros, como Boris Fausto, da USP, e José Murilo de Carvalho, professor titular de História do Brasil da UFRJ, têm sido publicados em periódicos e livros na Argentina, especialmente na Universidade de Quilmes. Outros historiadores argentinos estão sendo traduzidos para o português e serão publicados por editoras do Brasil, como José Carlos Chiaramonte, Luis Alberto Romero, Carlos Altamirano, Fernando Devoto e Adrián Gorelik, isso para não falar da reconhecida ensaísta Beatriz Sarlo, que integra, há muito tempo, o catálogo da Editora UFRJ.

Afonso Carlos Marques dos Santos

Professor Titular de Teoria e Metodologia da História da UFRJ

Notas

  1. Aldo Rossi. A arquitetura da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 198.

  2. José Luis Romero. Latinoamérica: las ciudades y las ideas. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Argentina, 1976.

  3. Luis Alberto Romero, filho de José Luis Romero, é um dos mais importantes historiadores argentinos. Pesquisador senior do Conicet, é professor titular da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires, do Mestrado em Ciências Sociais da Flacso e da Universidade Nacional de Tucumán. É autor, entre outros trabalhos, de Sectores populares, cultura e política: Buenos Aires en la entreguerra (com Leandro H. Gutiérrez, 1995); Qué hacer con los pobres. Elite y sectores populares en Santiago de Chile en el siglo XIX (1996); Volver a la historia (1997); Grandes entrevistas de la historia argentina (com Sylvia Saítta, 1998); Grandes discursos de la historia argentina (com Luciano de Privitellio, 2000); Argentina. Crónica total del siglo XX (2000); Buenos Aires, historia de cuatro siglos (co-dirigido com José Luis Romero, 1. ed.: 1983; 2. ed. ampliada: 2000); Breve historia contemporánea de Argentina (1. ed.: 1994; 2. ed. ampliada: 2001; 4. reimpressão: 2003). Foi diretor acadêmico da coleção “Historia Visual Argentina”, publicada pelo jornal Clarín, e da coleção “Los nombres del poder”, da editora Fondo de Cultura Económica.

  4. A primeira divulgação deste texto foi em Desarollo Económico, v. 20, n. 78, jul.-set. 1980. A segunda, em Tulio Halperin Donghi. Ensayos de historiografia. Buenos Aires: Ediciones El Cielo por Asalto, 1996, p. 73-105.

  5. José Omar Acha. José Luis Romero (1909-1977): bibliografia comentada para una historia intelectual. Revista Iberoamericana de Bibliografia, Washington, n. 2,1998, p. 409-436. Do mesmo autor, veja-se também: José Luis Romero como tradición. Para una discusión histórico-política. El Rodaballo, n. 6, 1997; e La trama profunda. Historia y vida en José Luis Romero, mimeo, 2001.

  6. Alexander Betancourt Mendieta. Historia, ciudad e ideas. La obra de José Luis Romero. México: Universidad Autónoma de México, 2001.

  7. Noé Jitrik. La virtud del escritor, p. 41-43; Carlos Altamirano. Reserva irónica y pasión, p. 44-45; Adrián Gorelik. Un optimismo urbano, p. 45-48. Punto de Vista, Buenos Aires, v. 24, n. 71, dic. 2001.

  8. José Luis Romero. Crisis y orden en el mundo feudoburgués. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Argentina, 2003. A primeira edição em espanhol é de 1980, pela Siglo Veintiuno Editores, México, um ano após a reedição naquele país de La Revolución Burguesa en el mundo feudal.

  9. Jacques Le Goff. Presentación. In: J. L. Romero. Crisis y orden en el mundo feudoburgués. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Argentina, 2003, p. x.

  10. José Luis Romero. Ensayos sobre la burguesía medieval. Buenos Aires: Universidade Nacional de Buenos Aires, 1961. Trata-se aqui de comentários acerca do terceiro ensaio do livro.

  11. Jacques Le Goff, op. cit., p. xi.

  12. Ibid.

  13. Idem, p. xii.

  14. Tulio Halperin Donghi, op. cit., p. 85.

  15. Idem, p. 101.

  16. Idem, p.102.

  17. Tulio Halperin Donghi. José Luis Romero: de la historia de Europa a la historia de América. Anales de Historia Antigua y Medieval, Buenos Aires, Facultad de Filosofía y Letras, Universidad de Buenos Aires, n. 28, 1995.

  18. Tulio Halperin Donghi. Ensayos de historiografía, op. cit., p. 102.

  19. Idem, p. 103.

  20. Noé Jitrik, nascido em 1928, é um dos mais reconhecidos críticos literários argentinos. Esteve exilado na Europa e no México, entre 1974 e 1987. É autor de numerosos ensaios sobre literatura e história, crítica literária, teoria e narrativa, contos e novelas. Foi professor pesquisador em universidades de Buenos Aires, México e França. É, atualmente, pesquisador e diretor do Instituto de Literatura Hispanoamericana da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires. Dirige Historia crítica de la literatura argentina, que está sendo publicada, em 12 tomos, pela Editorial Sudamericana.

  21. Noé Jitrik. La virtud de um escritor. Punto de Vista, Buenos Aires, v. 24, n. 71, dezembro de 2001, p. 42.

  22. Há uma enorme bibliografia sobre este tema na Argentina como, por exemplo, em Alberto Julián Pérez. El Facundo: Sarmiento interpreta a su nación, capítulo 4 do livro Los dilemas políticos de la cultura letrada. Argentina: siglo XIX. Buenos Aires: Ediciones Corregidor, 2002, p. 105-149.

  23. Noé Jitrik, op. cit., p. 42.

  24. Idem, p. 43.

  25. Carlos Altamirano é outro importante historiador argentino voltado para a história das idéias políticas e com vários livros e artigos publicados. E, desde 1999, professor titular regular de Introdução ao Pensamento Social no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Nacional de Quilmes.

  26. Carlos Altamirano. Reserva irónica y pasión. Punto de Vista, Buenos Aires, v. 24, n. 71, dic. 2001, p. 44.

  27. José Luis Romero. La vida histórica. Ensaios compilados por Luis Alberto Romero. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1988.

  28. José Luis Romero. Bases para una morfologia de los contactos culturales. Buenos Aires: Institución Cultural Española, 1944. Apud Carlos Altamirano, op. cit., p. 45.

  29. Félix Luna. Conversaciones con José Luis Romero. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1986. Apud Carlos Altamirano, op. cit., p. 45. [A primeira edição deste livro, citada por Adrián Gorelik, é de 1976, por Timerman Editores, de Buenos Aires.]

  30. A referência trata do ensaísta uruguaio Angel Rama (1926-1983). A primeira edição, em espanhol, do livro La ciudad letrada é de Hanover, New Hampshire: Ediciones del Norte, 1984. A edição brasileira é Cidade das Letras. São Paulo: Brasiliense, 1985.

  31. Apud Carlos Altamirano, op. cit., p. 45.

  32. Adrián Gorelik é um dos mais brilhantes intelectuais de uma nova geração de argentinos, tendo nascido em Mercedes (Buenos Aires) em 1957. E arquiteto e doutorem História (com títulos da Universidade de Buenos Aires). E pesquisador no Programa de História Intelectual da Universidade Nacional de Quilmes e docente na mesma universidade. Coordena o Seminário de História das Idéias, os Intelectuais e a Cultura, no prestigioso Instituto Emilio Ravignani da Universidade de Buenos Aires, dirigido pelo historiador José Carlos Chiaramonte. Publicou numerosos artigos sobre temas de história urbana e crítica cultural da cidade e de arquitetura, e o livro La sombra de la vanguardia, Hannes Meyer en México 1938-1949 (em colaboração com Jorge Liemur). Buenos Aires: Proyecto Editorial, 1993. Sua tese de doutoramento foi publicada num livro de grande sucesso na Argentina e que deveria ser publicado no Brasil, tanto pela qualidade da pesquisa quanto pela originalidade da construção teórica e da interpretação. Trata-se do notável La grilla y el parque. Espacio público y cultura urbana en Buenos Aires, 1887-1936. Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes, 1998.

  33. Adrián Gorelik. Un optimismo urbano. Punto de Vista, Buenos Aires, v. 24, n. 71, dic. 2001, p. 45-46.

  34. Idem, p. 46.

  35. Ibid.

  36. Ibid.

  37. Tulio Halperin Donghi. José Luis Romero: de la historia de Europa a la historia de América, op. cit.

  38. Adrián Gorelik, op. cit., p. 47.

  39. A referência é ao argentino Ezequiel Martínez Estrada (1895-1964). E autor do ensaio clássico Radiografia de la Pampa, cuja primeira edição é de 1933. Há edições posteriores, sendo a sexta edição de Buenos Aires: Editorial Losada, 1968.

  40. Adrián Gorelik, op. cit., p. 47.

  41. Omar Acha. La trama profunda. Historia y vida en José Luis Romero, op. cit.

  42. Carlos Altamirano. José Luis Romero y la idea de la Argentina aluvial. Prismas, Buenos Aires, n. 5, 2001. Nesse livro, também se desenvolve a vinculação de Romero com o vitalismo alemão.

  43. Adrián Gorelik, op. cit., p. 48.

  44. Afonso Carlos Marques dos Santos. Da colonização à Europa possível: as dimensões da contradição. In: Giovanna Rosso Del Brenna (org.). Uma cidade em questão I: Grandjean de Montigny e o Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Funarte/PUC-RJ, 1979. Veja-se também, para a especificidade do processo de construção de um pensamento autonomista no Brasil, Afonso Carlos Marques dos Santos. A invenção do Brasil: um problema nacional? Revista de História, USP, São Paulo, n. 118, jan.-jun. 1985, p. 3-12, e o livro No rascunho da nação: inconfidência no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1992.

  45. Afonso Carlos Marques dos Santos. A Academia Imperial de Belas-Artes e o projeto civilizatório do Império. In: Sonia Gomes Pereira (org.). 180 Anos da Escola de Belas-Artes. Rio de Janeiro: EBA/UFRJ, 1997, p. 127-146.

  46. Afonso Carlos Marques dos Santos. O Paço da cidade: biografia de um monumento. In: Lauro Cavalcanti (org.). Paço Imperial. Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999, p. 52-117; Entre a forma e o ideal: um emblema da civilização. In: Pedro Calmon. O Palácio da Praia Vermelha. 2. ed. revista e ampl. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2002, p. 9-14.

  47. Ver os textos de Afonso Carlos Marques dos Santos, de Eduardo Hourcade e dos demais ensaístas brasileiros e argentinos em A visão do outro: seminário Brasil-Argentina. Brasília: Funag, 2000. Como fruto dessas aproximações, publicamos também o artigo: Ciudad, civilización y proyecto en Río de Janeiro (1808-1906). Revista Estudios Sociales, Universidad Nacional del Litoral, Santa Fé, Argentina, v. 11, n. 21, 2° semestre de 2001, p. 55-68.

  48. Os novos textos de Afonso Carlos Marques dos Santos, José Carlos Chiaramonte e dos demais ensaístas encontram-se em Carlos Henrique Cardim e Monica Hirst (org.). Brasil-Argentina: a visão do outro – soberania e cultura política. Brasília: IPRI/ Funag, 2003.